Quando o aprendizado passou a ser realizado de forma remota por causa da pandemia da Covid-19, antigas marcas da desigualdade social ganharam dimensão entre 94.204 crianças e adolescentes cearenses, de seis a 17 anos, que não tiveram acesso a atividades remotas.
Matriculado em escolas públicas do Ceará, esse contingente não teve acesso a aulas e exercícios no mês de julho, excluindo aqueles de férias, como revelam dados filtrados pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e pela Rede de Pesquisa Solidária, com base no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Imagina que são estudantes de várias classes sociais que estão numa corrida para chegar numa situação de vida melhor. O fato de você nascer numa família rica já te dá 100 metros de vantagem. Estudar numa escola particular, mais 100 metros. Aí vem a pandemia, e o fato de não ter internet e as políticas de Educação não responderem direito dão metros de vantagens para os mais ricos. É o que a gente chama de desvantagens cumulativas", associa Ian Prates, sociólogo responsável pelo levantamento.
Quando comparado com os outros estados, o Ceará fica em quarto lugar no ranking nacional das localidades em que mais estudantes receberam os materiais didáticos - onde apenas 6,1% ficaram sem este acesso - atrás do Paraná (3,4%), Santa Catarina (3%) e do Mato Grosso do Sul (2,9%). O resultado foi melhor que o de São Paulo (6,2%) e de Rondônia (6,9%), que aparecem na sequência.
Entre os cearenses sem acesso a atividades remotas, contudo, um perfil sofre mais com a desigualdade de acesso à Educação evidenciada em tempos de pandemia: 65.893 estudantes - 69,4% do total -, são alunos pretos, pardos e indígenas. Os alunos de cor branca que não conseguiram acompanhar as lições são 28.311, 30% do número geral.
Os números são proporcionais aos de matrículas nas escolas públicas: são 1.258.947 no Ceará, sendo 907.816 não brancos (72,1%) e 351.131 (27,9%) brancos.
Diário do Nordeste
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