domingo, 11 de março de 2012

Pe.Emídio, Pároco de Bela Cruz, concede entrevista na rádio Genoveva Fm

Entrevista publicada no blog da rádio Genoveva Fm de Bela Cruz-Ce, em 01 de Março de 2012.
O diretor presidente da rádio Gems Fm 103,5 e ex-pároco de Reriutaba, Padre Emídio Moura Gomes é entrevistado no “PROGAMA BELA CRUZ COMO TE AMO” que tem a apresentação de Edilson Carvalhedo Sampaio (Fundador, representante legal e Diretor Geral da Radio Comunitária Genoveva FM de Bela Cruz)
Edilson Sampaio–Bom dia padre EMÍDIO MOURA GOMES, antes de tudo declaramos que nos sentimos muito honrados com a presença de Vossa Reverendíssima aqui nos estúdios da Radio Comunitária Genoveva FM de Bela Cruz. - Padre, como a população tem demonstrado a sua aceitação e participado das cerimônias litúrgicas religiosas?
Pe Emídio - Eu percebi desde a minha primeira chegada aqui, quando eu cheguei na noite do dia 20 de janeiro, várias faixas de boas vindas. Depois a presença de vários grupos na minha casa. Uma seresta que fizeram pra mim na primeira noite que dormi aqui em Bela Cruz e depois a multidão na minha posse e muita gente me procurando para conversar, para se aconselhar, para se confessar e a presença maciça nas missas no sábado, no domingo, tem demonstrado que é um povo acolhedor, um povo amigo. Eu sinto a dificuldade porque eu não conheço as pessoas pelo nome. Lá em Reriutaba eu conhecia mais ou menos nove de cada dez nome das pessoas e sabiam a onde moravam, de quem eram filhos, de quem eram os pais. Eu acredito que eu já conheço umas duzentas pessoas aqui pelo nome, então a gente se sente um pouco aquela dificuldade, mas, pouco a pouco eu tenho me sentido muito bem, Reriutaba é mais beligerante.
É tanto que Reriutaba tem 75 anos de paróquia, eu já fui o décimo Padre. O Padre que mais tempo passou lá, foi eu que fiz 23 anos, os outros era de 2, 3, 4 anos exatamente, porque é um povo assim beligerante, é um povo bom, mas tem sempre um pequeno grupo que calunia, mente, espalha e muita gente se inquieta com isso e vários Padres, seis dos dez, que tiveram lá, todos saíram, por causa dessa situação, enquanto em Bela Cruz, com 70 anos de paróquia eu sou ainda o quarto Padre. Quer dizer que nos 70 anos foram apenas três Padres, o que significa dizer que é um povo bem mais acolhedor em virtude da permanência do Sacerdote.
Edilson Sampaio - O que a juventude, os idosos, os casais, as uniões irregulares de casais, os dependentes químicos, esperam do padre EMÍDIO MOURA GOMES, principalmente na parte espiritual?
Padre Emídio – Senhor Edilson eu escrevi uma carta por ocasião da minha posse, distribui para os belacruzenses. Eu não sabia por exemplo que aqui em Bela Cruz já havia coincidência relativamente grande de dependentes químicos, por isso na minha carta eu não fiz menção a eles. O jovem ele vive no mundo em que se ignora o passado que não se acredita no futuro, então vive só um momento enquanto a gente ignora o passado, a gente não percebe as causas que geraram o presente e não percebendo as causas que geraram o presente, tudo passa a ser natural, se fosse uma coisa que é daquele jeito e não pode mudar, olha, quando eu ignoro o passado e eu não tenho passado e nem conhecimentos de causa, eu não acredito no futuro e por não acreditar no futuro eu destruo o meu sonho, minha opção, os meus grandes ideais, eu fico apenas com o presente. O que é que eu posso fazer. Eu posso sentir prazer e alegria, mas eu acho que está tão pouco o meu prazer e minha alegria, então eu quero aumentar, aí vem o som exagerado, vem a bebida e vem a droga que destrói a vida das pessoas, então o que eu quero dizer aos jovens: nós precisamos compreender que a vida que vivemos hoje, ela foi construída e que nós podemos modificá-la, por isso é importante conhecer o passado, se aqui hoje temos esta Rádio Comunitária, foi porque alguém pensou, alguém se dedicou, alguém sofreu, alguém se sacrificou para que nós a tivéssemos, e perder esta consciência é não dar o devido valor que ela tem e quando nós vemos que em determinadas causas geram determinados efeitos, então nós abrimos nossos olhos para o futuro, para um horizonte aberto para um mundo cheio de possibilidade que vale apena o sacrifício do presente para determinada renúncias e para encontrar uma realidade mais abrangente no futuro. Aos casais, em breve eu os chamarei para uma reunião, um encontro na Igreja Matriz só para eles. Aos casados de segunda união, em breve também estarei convidando. Primeiro nós queremos saber se eles não querem tentar a nulidade do seu primeiro casamento, para que eles possam ficar livres para construir novas núpcias e orientá-los também dentro da vida que é possível que na vida nós temos que servir a Deus naquilo que as vidas também nos proporcionou e todo seu amor de Deus derrube todos os obstáculos. Por isso a Igreja tem que ter para todos uma palavra de alegria, de acolhimento e de esperança. Com relação aos Idosos, sábado nós estaremos já a partir das 07 horas da manhã eu e o Padre Renato, Padre Assis Rocha, Padre João Batista de Itarema e o Padre Flávio de Juritianha-Acaraú, na Igreja Matriz para atender os Idosos em confissão, depois uma Missa Especial para eles e também para as pessoas enfermas, onde daremos a bênção dos enfermos, nós temos um carinho muito especial por eles e queremos abrir os olhos das famílias para que sejam sensíveis a esta realidade.
Edilson Sampaio - Padre EMÍDIO MOURA GOMES, é do conhecimento de todos que existe uma arrecadação voluntária entre os fiéis, denominada de DÍZIMO, gostaríamos que Vossa Reverendíssima esclarecesse ao público ouvinte, qual a finalidade do DÍZIMO?
Padre Emídio – O Dízimo surgiu na Sagrada Escritura depois da organização do povo de Israel divida em doze tribos, então, para que o povo não se esquecesse a sua origem, o seu destino e a presença de Deus, o povo se organizou assim, pegou as terras, eram doze tribos, e dividiu as terras por onze, e a tribo de Levi ficaria sem terras, sem riquezas, ficaria dedicada somente a catequese, a formação religiosa, para que o povo não esquecesse sua origem e seu destino e as outras onze tribos dariam dez (10%) por cento de suas vendas na agricultura, na pecuária, no comércio, para sustentar a tribo de Levi, que ficaria encarregada da formação religiosa do povo. Então surgiu o Dízimo. O Dízimo surgiu porque? O ser humano não é só corpo e mente, ele é espírito. Se ele tem fome de alimentos, de comida, materiais, ele tem fome de afetos e de nada vale uma barriga cheia e um coração vazio, torna a vida tediosa, cansativa, desanimada, mas também, os afetos, eles não arrancam o homem da sua profunda solidão. Só Deus nos arranca da nossa solidão profunda. O nosso coração é como certo lugar na nossas costas, a gente vai de todo jeito e não consegue coçar, vai por cima do ombro e não alcança, pelos lados e não alcança. Os afetos vão a um determinado momento, até um determinado lugar dentro de nós. Mas Deus vai lá na profundidade do nosso ser e arranca-nos da solidão do descaso da vida abrindo-nos para a alegria. Por tanto o Dízimo é tão necessário quanto Deus é necessário a vida religiosa é necessária a nossa vida. Na nossa Igreja nós temos atualmente em torno de R$ 12.000,00 (doze mil reis) que arrecadamos no Dízimo por mês. Senhor Edilson, dinheiro, sanidade e voto é sempre metade da metade, então são doze mil reais que recebemos, mas poderia ser muito mais, porque existem várias maneiras das pessoas entregarem o Dízimo, primeiro é ser fiel dentro da infelicidade, como é que a gente é fiel dentro da infelicidade? Por exemplo: o marido não arranja outra, mas, não dorme com a sua esposa, ele não é fiel, mas também não é infiel, ele é fiel dentro da infidelidade, trata mal, se intriga, não dá carinho, não dá amor, então ele é fiel porque não arranja outra, mas é infiel porque não fez a sua parte completa. Então, aquele Dizimista fiel dentro da infidelidade, ele começou a dar a dez anos, doando cinco reais, quando o salário mínimo era trezentos reais, era duzentos e cinqüenta reais. O salário subiu para quatrocentos reais, 450,00, 500,00, 550,00 e 620,00 e ele continua dando os mesmos 5,00 cinco reais. Ele é fiel dentro da infidelidade, isso nós precisamos acordar para esta realidade. Depois outra coisa, existe também o Dizimista que não compreende que o Dízimo é fonte de prosperidade. O primeiro Dízimo foi no paraíso, Deus deu tudo ao homem, mas deixou uma árvore no meio do jardim e esta árvore era a parte de Deus no jardim e o homem não podia tocar na parte de Deus, ele teria a saúde, a prosperidade a alegria, o desenvolvimento com tudo mas sem tocar na parte de Deus, que era a árvore no meio do jardim, mas o que o homem fez: invadiu o que é de Deus e a partir daí, é que veio o sofrimento, o afeto se transformou em desconfiança, o olhar duro se transformou em medo e é por isso que o homem vive até hoje. O dízimo é como uma espécie de equilíbrio, enquanto o homem não der de Deus o que é de Deus, ele estará no mundo da desconfiança, da tristeza, da falta de coragem, da falta de luz. Então Dízimo é um instrumento de bênção, é recuperar no ser humano o que há de mais nobre no ser humano, a sua vida espiritual que o sustenta, que o orienta, que o coloca junto de Deus.
Edilson Sampaio - Padre EMÍDIO MOURA GOMES, como o senhor analisa a Política e a Religião? O senhor acha que a Igreja Católica tem que silenciar e não orientar os seus seguidores?
Padre Emídio - Na época da eleição é sempre uma situação muito complicada porque muitas coisa influenciam as pessoas na hora de decidir, eu acho que o campo próprio da Igreja pé a formação para a cidadania não na proximidade da eleição, porque não adianta dar comida a quem está com fastio, pelo contrário forçar uma pessoas fastiosa a comer é irritar a pessoas, então no tempo da eleição as pessoas estão apaixonadas e as paixões elas não tratam de sentimentos bons para o coração. Geralmente quem ganha uma eleição ganha mais com o ódio do adversário do que com a simpatia de se próprio, então o candidato ele não ganha, as pessoas não votam nele só porque simpatizam com ele, votam porque estão com ódio do outro, com raiva do outro com ressentimento do outro. Então, estar neste mundo é como estar numa cerca de ramada, todo lado que a gente vai, tem um garrancho para espinhar a gente, não dá de jeito nenhum, então é melhor a Igreja procurar orientar o povo ao longo do tempo e deixar o tempo da política confiar naquilo que foi plantado, possa nascer, florescer e modificar.
Edison Sampaio -Padre Emídio Moura Gomes, gostaria que o senhor falasse a respeito de que uma grande maioria de católicos, assistem a missa de domingo pela televisão, isto está certo ou estão cometendo algum pecado gravíssimo?
Padre Emídio – Pecado eu não diria que estariam cometendo, agora a Missa é um banquete e eu acredito que ninguém ficaria satisfeito, assistindo um banquete pela televisão. Porque? Porque o banquete é um lugar que a gente come se abraça, se alimenta, só dá certo se a gente estiver lá. Então a Missa na televisão é para aquele que não pode ir a Igreja. Nos males o menor, se não é de ter nada, tem o que pode ter, mas quem pode ir a Igreja, o lugar certo é na sua comunidade, depois dali, você não é um produto que eu consumo, não é uma aula que eu assisto. Missa é um encontro, primeiro com a minha comunidade , com meus irmãos, filhos do mesmo Pai que está no Céu, depois o encontro com o próprio Deus, depois eu participo, onde eu canto, respondo determinados trechos, eu rezo, eu adoro, eu colaboro com a minha oferta, e eu também recebo o alimento que é a comunhão, então a Missa completa com todas as realidades. Pela televisão ela não é completa, também não acredito que ninguém gostaria de ouvir a namorada só pela internet, será que gostaria? Você tá lá na cama e eu estou aqui, eu me encontrar, então quem ama a Deus, quer se encontrar com Ele, quem ama um irmão quer se encontrar com ele, faz parte do amor querer estar perto de quem se ama, de modo que quem está vivendo na televisão e não vai a Missa por medo, está realmente perdendo oportunidade e cometendo uma falha relativamente grande e quem não pode, a gente não está obrigado ao impossível. Por isso peço a você que amanhã veja um vizinho, um amigo, que não costuma ir a Igreja, com os próprios pés e você que tem um transporte, pense, ajude e leve-o para a missa. A pessoa pode comungar, porque deixar de ir a Missa por motivo justo, não é pecado mortal, na outra missa que ele vai, no momento no começo da missa no ato penitencial ele se arrepende, ele pede perdão daquela falta e ele deve comungar. Se ele não foi a missa simplesmente por desleixo, por não dar valor a missa, até que agente se pergunta, ele vai pra que?
Edilson Sampaio – Padre Emídio, o senhor disse no sermão que quem casa e quer levar uma vida de solteiro, namorando , farreando, não deve se casar. Como assim?
Padre Emídio – Foi. É porque pra decidir e escolher, significa tirar um pedaço e enquanto eu sou solteiro eu olho todas as moças, todas elas poderiam ser minhas esposas, só que elas poderiam, nenhuma é. Enquanto a moça solteira, todos os homens, os rapazes, poderiam ser seus esposos, poderiam, mas não são. Mas, está diante do todo quando eu escolho, ali eu estou tirando um pedacinho do todo, uma só dentro de mil, dois mil, três mil, sei lá, então a partir dali só aquela é minha, só eu sou daquela, mas, o que é que acontece quando o homem casa, é preciso agir como casado, é preciso ficar com quem eu escolhi e dar oportunidade de quem eu escolhi ficar comigo e se eu quero ficar pro lado e pra outro, então não case, fique rapaz velho e o que é que acontece, tem todo mundo só não tem nenhum e o que é que tem casado, só tem um, mas tem um, então se a gente não souber fazer esta distinção se a gente não souber assumir a responsabilidade, a convivência matrimonial é uma coisa muito complicada, aliás a convivência como todo, porque são muitos fatores que vão influenciar na vida daquela pessoa. Todo mundo que ama, faz uma imagem do amado ou da amada. É tanto que quando queremos bem a uma pessoa a gente não se contenta com uma fotografia 3x4, vem 15x15, a gente amplia e bota numa moldura bem grande. Se agente quer bem demais, é uma moldura bem chique, bem cara, mais cara do que a foto, só que a pessoa continua sendo 3x4, quem ampliou foi a máquina e foi ampliada porque eu amei e mandei fazer grande,mas foi eu que fiz a pessoa grande, mas ela continua pequena, quando eu começo a conviver eu percebo que a pessoa não é um metro por um metro é 3x4, aí eu fico com raiva, aí eu tenho de fazer uma grande decisão ou eu quebro a foto e fico com a pessoa, ou eu jogo a pessoa fora e fico com a foto, bem que muita gente faz, não a foto que está na parede, mas a foto que está na mente. Por isso nosso Senhor diz: não faça imagem do que está embaixo e nem do que está em cima, deixe o outro ser o que ele é. Então quando fazemos uma imagem da pessoa o que ela não é, cuidado não é porque ela não pode ser é porque ela não quer não, é porque não pode e eu quero que ela seja, mas ela diz eu não sou, mas se você não me decepcionou, mas foi você que criou a decepção, então é preciso sempre da convivência e nós estamos sempre quebrando essa imagem e ficar com as pessoas.

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