Moradores precisam ir a municípios vizinhos, prejudicando comércio local e arrecadação de impostos.
Falta de circulação de dinheiro que afeta comércio e administração pública, transtornos com deslocamentos e filas longas em bancos. São situações como essas comentadas por moradores de municípios que sofreram com ataques de quadrilhas a agências bancárias.
Na última cidade a ser alvo dos criminosos, Graça, o sentimento é de insatisfação. Em um mês, as duas agências do município foram atacadas: em 2 de abril, unidade do Bradesco foi explodida; já em 8 de maio, foi a vez de agência do Banco do Brasil. Conforme estima a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Graça, Georgiana Martins, 80% da renda do município vêm da agricultura, dos aposentados e dos pensionistas. "A cidade tá quase que parada, principalmente, a circulação de dinheiro", diz. Sem os bancos, agricultores não estão mais contando com um serviço ofertado pelo sindicato: eram disponibilizados funcionários para os auxiliar no uso de caixas eletrônicos.
Moradora do Município, a aposentada Carolina Clemente da Cunha, de 80 anos, vem precisando fretar um carro para ir a cidades como São Benedito e Mucambo para sacar sua aposentadoria e pensão. O gasto a mais faz falta: são R$ 100 pelo transporte. "Faz muita falta um Banco do Brasil em Graça, aliás, todos os bancos. Se tivesse como consertar, seria muito bom", diz.
Já tendo que ir a municípios vizinhos, Carolina aproveita para fazer suas compras fora de Graça. Esse movimento prejudica o comércio local, reclama a comerciante Clécia Rodrigues Furtado, de 44 anos, moradora de Reriutaba, a 290 quilômetros da Capital. Em 27 de março do ano passado, criminosos atacaram, simultaneamente, as agências do Bradesco e do Banco do Brasil da cidade. Outra vez, criminosos utilizaram explosivos. Mais de um ano após o crime, as agências não foram reabertas, apesar da mobilização da cidade.
Clécia relaciona a falta de banco e a consequente queda na movimentação econômica na cidade a uma obra que não conseguiu retomar de expansão do seu comércio. "Já estava parada mesmo e, agora, foi que não retornou mesmo", desabafa. "Eu costumo dizer que a gente está tendo de ser artista para sobreviver em uma cidade pequena, principalmente em comércio." Ela diz ser comum que os bancos postais fiquem sem dinheiro, levando quem precisa sacar a cidades vizinhas — para o Bradesco, Varjota; já para o Banco do Brasil, Pacujá. Isso, porém, "não resolve tudo", diz. Ela cita que a agência do município vizinho é pequena, o que torna grandes as filas para o atendimento. Até porque Cariré teve agência explodida, fazendo com que seus moradores tenham também de recorrer a Varjota.Os impactos econômicos também são sentidos na administração pública. Em Piquet Carneiro (287 quilômetros de Fortaleza), o prefeito do Município, Bismarck Barros Bezerra (PDT), fala que a perda é "gigantesca". O Município de 16 mil habitantes é mais um que ficou sem nenhuma agência — ainda que conte com posto bancário e casa lotérica. O ataque ao Banco do Brasil da cidade completou um ano no último dia 10 de maio. Conforme Bismarck, a prefeitura cedeu um espaço físico para que a agência funcione em sua parte burocrática, mas não se trabalha com numerário. Ainda que não estime quanto a prefeitura deixou de arrecadar no período, o prefeito destaca a distância do "local onde se faz as negociações, financiamentos e se guarda a arrecadação". Ele cita a perda no recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) com a redução de circulação financeira e a consequente queda no comércio local. "Embora o País esteja em crise, a gente acredita que grande parcela desse prejuízo provém da agência bancária." (Lucas Barbosa)Jornal o Povo
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