R$ 5 mil. Este foi o valor supostamente pago pelo marido da vereadora suplente Sandrinha (PTB) ao vereador eleito Charles Padeiro (PTB) para que a mulher assumisse o mandato por 4 meses. O escândalo aconteceu na cidade de Santa Quitéria, a 222 km de Fortaleza.
O vereador eleito pediu licença do cargo por 120 dias em agosto, alegando problemas particulares. Sandrinha, a primeira suplente, assumiu em seu lugar, tomando posse no dia 15 daquele mês. No último dia 18/10, pouco mais da metade do tempo da licença, o vereador eleito retornou à Câmara para reassumir seu posto, antes do prazo previsto. Sandrinha então resolveu abrir o jogo.
A vereadora suplente revelou o esquema na tribuna da Câmara da cidade, na última segunda-feira (21). A denúncia foi enviada à redação web do Diário do Nordeste através da ferramenta VC Repórter.
Por telefone, Sandrinha explicou ao Diário do Nordeste que teria sido coagida pelo colega de partido a realizar o pagamento de metade do salário. "Quando eu assumi, ele (vereador Charles) veio com a história que tinha que pagar a ele metade do salário senão ele ia tomar o mandato. Aí eu disse que não aceitava. E ele queria uma garantia que ia receber esse dinheiro", disse.
De acordo com a suplente, o marido foi quem negociou o pagamento. "Foi o meu marido (Francisco Evandro Alves Vasconcelos) quem negociou com ele. Ele fez 3
cheques de R$ 1500 e um quarto, de R$ 500. O primeiro cheque, inclusive, o Charles já sacou", acusou Sandrinha.
cheques de R$ 1500 e um quarto, de R$ 500. O primeiro cheque, inclusive, o Charles já sacou", acusou Sandrinha.
A mulher afirma ainda que faz oposição ao atual prefeito da cidade, Fabiano Lobo. Isto teria levado o vereador Charles a fazer ameaças de que 'tomaria' a vaga de volta, caso Sandrinha não apoiasse o gestor. "Ele ficava me ligando, me ameaçando, que eu tinha que ficar lá na minha e pronto. Disse que ou eu apoiava o prefeito ou ele me tirava. E disse que não era da bancada dele, mas ele me mandou não tocar no nome do prefeito. Até a cor do paletó ele dizia qual era pra ser, e a cadeira para eu sentar tinha que ser do lado dos vereadores da situação. Não podia sentar do outro lado", disparou.
Vereador nega acusações
O vereador Charles, também por telefone, negou todas as acusações. "Não existiu nada disso aí não. Eu tenho uma empresa e pedi licença para cuidar da empresa, que estava passando por dificuldades, estava precisando da minha intervenção. A licença era de 120 dias mas podia retornar a qualquer momento, pois foi por assuntos particulares e sem remuneração", afirmou. Em dezembro de 2012, entretanto, o vereador havia afirmado à imprensa local que havia um acordo entre ele e seus 4 suplentes, para que fossem retiradas licenças de 4 meses em cada um dos 4 anos do mandato para que cada suplente pudesse assumir o mandato.
Sobre a acusação de ter recebido os cheques, Charles foi enfático: "Não posso afirmar nada. Não recebi cheques", garantiu.
Padeiro, que está em seu primeiro mandato, também negou as acusações de ter intimidado a suplente a apoiar o prefeito. "O partido estava apoiando o prefeito. Mas não houve estas ameaças em momento algum", relatou.
Charles afirmou, ainda, que retomaria o cargo por ordens superiores. "Estarei voltando por recomendação do partido, da direção estadual", finalizou.
Última sessão é marcada por discussão
No último dia 25, a sessão da Câmara dos Vereadores de Santa Quitéria teve de ser interrompida precocemente. Era a última participação de Sandrinha como vereadora na tribuna. A suplente, mais uma vez, disparou críticas contra Charles Padeiro, que retornava para assumir seu posto de vereador.
"Vereador, você sabe que tem um acordo comigo de 4 meses. Você é um vereador corrupto. Você sabe das provas que eu tenho contra você. Você negociou com meu marido o meu mandato. Eu já disse: depois que eu fui empossada, você veio me chantagear. Eu não lhe paguei, mas meu marido, para eu não perder o mandato, lhe pagou. Tem o seu nome nos cheques! Seja homem! Cumpra sua palavra! Estou saindo, mas saio com a dignidade de dever cumprido", discursou.
Sandrinha foi interrompida pelos outros vereadores, indignados com as afirmações. O vereador Algacy Filho (PMDB) acusou a vereadora de corrupção. "Você fez sua sujeira, pois você faz parte dela. Você não é tão certa assim. Você comprou e diz que comprou. E quem compra é tão corrupto quanto quem vende. É vergonhoso eu escutar um negócio desses dentro da minha casa. Vender mandato? Comprar mandato? Isso não é uma bodega não!", esbravejou.
O vereador Leôncio Muniz (PSD) também bateu boca com Sandrinha. "Acordo é acordo! Você disse 'comprei', e tá registrado assim". Outros vereadores tomaram a palavra e também criticaram o acordo e a suposta venda do mandato. Diante da situação, o presidente da Câmara encerrou a sessão.
O Ministério Público (MP) afirmou que ainda não recebeu denúncia do escândalo ocorrido na Câmara Municipal de Santa Quitéria. A promotora eleitoral da zona, Luciana Costa Girão, não foi localizada.
A reportagem ligou também para o presidente da Câmara de Santa Quitéria, vereador Miúdo (PSC), e chegou a combinar entrevista. O vereador, entretanto, não mais atendeu o telefone da reportagem após o primeiro contato.
Diário do Nordeste
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